sábado, 24 de abril de 2010


Nesta caminhada de dois milhões de anos de construção da nossa Cultura Alimentar, o Pão bem merece um lugar especial tal a grandiosidade que transporta na sua História de luta pela emancipação do Homem.
O SABER que nos conduziu, há sete ou oito mil anos, a juntar a tão abundante quanto pura – e grátis! – água às sementes de trigo e cevada toscamente trituradas para produzir a amálgama que deu origem ao primeiro pão, não foi obra do acaso nem de nenhum deus moderno dos que, motivados e promovidos pelos poderes, tornam possível o «milagre» de produzir um pressuposto pão em poucos minutos, com níveis de toxinas aceitáveis para a ASAE e a EFSA, sua congénere europeia.
Bem sabemos, bem sabe a Confraria do Pão como tem sido e continuará a ser árdua a construção do SABER a que chamamos Cultura… E bem sabe também como é difícil evitar, no mundo actual, que os poderes instalados DEIXEM preservar os espaços e comportamentos que promovam a Cultura como primeiro e indispensável passo para prevenir a doença, isto é a Infelicidade.
Claro que compreendemos a Saúde como DIREITO, contrariamente ao mundo da economia que a entende sobretudo como NEGÓCIO. É aí que repousa a verdadeira razão da União Europeia - e todo o mundo «ocidental»- consumir milhões e milhões no tratamento das doenças e aplicar uns míseros tostões na prevenção das mesmas.
Julgamos que o problema da SAÚDE/DOENÇA em Portugal e na UE, particularmente no mundo rural, é basicamente semelhante ao do Pão. Ou seja, o(s) factor(es) que condicionaram as profundas alterações nos hábitos alimentares do mundo contemporâneo, induzidas pelas grandes cadeias agro-alimentares nas últimas cinco décadas, são os mesmos que vêm comandando as consciências e vontades dos que, ingenuamente crentes na possibilidade de «comprar a eternidade», pressionam governos e governantes para lhe disponibilizar gratuitamente actos e tratamentos para despiste, diagnóstico e tratamento de perturbações menores em termos de saúde, maiores nos dispêndios do erário público e do pecúlio familiar; os quais vão enriquecendo as indústrias que vivem da infelicidade.
Isto é, o interesse económico, directo ou indirecto, aberto ou encoberto, sofisticada e hipocritamente disfarçado de «ciência» e/ou «inovação» ou violenta e impunemente servido em torrentes de publicidade que ninguém controla ou avalia, o interesse económico, dizíamos, CONDICIONA EM ABSOLUTO O NOSSO QUOTIDIANO.
Lamentavelmente, portanto, a ciência, que na maioria dos casos mais parece uma amante rica do poder económico, não lhe escapa e os critérios para aferir a sua independência terão que ser estabelecidos com cuidado.
Aproveitemos o actual exemplo das «toxinas do pão» para ilustrar a falta de independência com o que o publicitado estudo está a ser levado a efeito.
Ao longo de dez anos que a nossa Confraria tem vindo a denunciar publicamente a hipocrisia governante que permite que o Pão seja aditivado com todo o tipo de substâncias, algumas delas comprovadamente cancerígenas.
É também pública a luta que travámos, incluindo nos Tribunais, para que o Pão Tradicional Alentejano continue a ser produzido.
Tal como é bastamente conhecida a nossa posição de crítica em relação à esmagadora maioria do pão que se produz em Portugal, incluindo o Alentejo.
Já o estudo decorria, a 7 e 8 Outubro de 2008, a escassa centena de metros do Instituto Superior de Engenharia do Porto, levámos a efeito, em colaboração com a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade de Porto, uma Oficina do Pão.
Como compreender que, no estudo em questão, não tivesse sido contemplado, para ser rigorosamente analisado como os demais, «o Pão da Confraria», que assim caracterizamos:
É feito com muita paciência e respeito pelo saber acumulado pelos nossos antepassados ao longo de dois milhões de anos…
O Pão que produzimos a partir da massa azeda, com um crescente e dois refrescos, é amassado vagarosamente durante cerca de uma hora, levedado (fintado) docemente durante todo o tempo necessário e cozido em forno a lenha (estevas) durante pelo menos uma hora.
Dois Confrades iniciam a laboração às 14 horas e pelas duas da manhã saem do forno os primeiros 100 Pães, já com a ajuda de um padeiro tradicional e um ajudante.
Duas horas e meia depois está pronta a 2ª fornada e, quando necessário, mais duas horas e meia e teremos a 3ª fornada.
Ainda não é feito exclusivamente com farinha de trigos autóctones mas as farinhas que usamos são muito menos expoadas – e, portanto, mais ricas – do que as que a indústria panificadora utiliza, para além de não serem «corrigidas» (sem aditivos, portanto).
Por tudo isto, o nosso Pão, tal como todos os Pães verdadeiramente tradicionais, é protector da Saúde, permitindo uma digestão suave, contrariando a Obesidade e a Diabetes, sendo também um óptimo regulador do trânsito intestinal.
Não é o «Pão do Alentejo» que inunda o grande comércio onde se vende «gato por lebre».
É o PÃO TRADICIONAL ALENTEJANO! Que muito nos orgulha produzir e partilhar. Consigo!
Acreditamos que os Padeiros – que vivem e sobrevivem num mundo em que «tempo é dinheiro» - possam voltar a produzir «Pão Tradicional», assim promovendo a saúde e protegendo o seu futuro…
(dos sacos de papel e pequeno opúsculo com que fazemos acompanhar o Pão da Confraria)
A nossa exclusão – nem sequer fomos contactados para emitir mera opinião – não repousa na má vontade dos investigadores, os quais nos merecem todo o respeito.
Outrossim repousará na necessidade que o consciente colectivo tem de se imunizar contra «ideias perturbadoras». Que nos orgulha defender e de que são bom exemplo as que integram um folheto profusamente distribuído em todos os eventos e acções onde participamos:

«A Confraria não sabe onde nasceu o Pão; mas suspeita que terá sido entre o Vale do Tigre e do Eufrates e as montanhas do Afeganistão.
Mas sabe como nasceu, das mãos de Homens que, com simplicidade, souberam aproveitar os recursos da mãe Natureza em água e «trigo», a que, com engenho, juntaram o pilão e o fogo.
E bem sabe a Confraria a tremenda importância do Pão, o incansável mitigador da fome a que «o filho de um carpinteiro» deu a honra do altar.
Como também sabe que o mundo contemporâneo é condicionado pela Economia, já não a que dizia destinar-se a promover a justiça social mas a que despudoradamente vai aumentando as desigualdades entre os povos e dentro das nações, distribuindo migalhas aos que reclamam… Pão!
Sobretudo, sabemos que o mundo actual é governado pelas aparências e o faz de conta, em que as “verdades” são fabricadas como António Aleixo nos ensinou (Prá mentira ser segura/e atingir profundidade/tem de trazer à mistura/qualquer coisa de verdade), ora com o patrocínio da comunicação social que as atesta e promove. E trazem sempre à mistura o «tempo», normalmente embalado de «produtividade», pois, como eles dizem, «tempo é dinheiro».
O NOSSO PÃO, em todas as suas vertentes, recusa esse duvidoso caminho, responsável pelas doenças modernas e o seu impacto na falta de saúde da Humanidade.
O NOSSO PÃO recusa contribuir para que, no mesmo mundo e no mesmo tempo, lado a lado, morram milhões de crianças com fome enquanto outras tantas se apresentam doentiamente obesas.
O NOSSO PÃO não aceita ser «parte» de refeições em que o prazer de comer em fraterno convívio não marque presença ou em que a arrogância seja bilhete de ingresso.
O NOSSO PÃO encerra o segredo da VIDA SÃ. Recupera respeitosamente a tradição do que nos antecederam e aceita, com entusiasmo, o conhecimento actual, testado e comprovado como útil para a Saúde, tanto física como mental. Orgulhamo-nos de saber articular os saberes e de termos aprendido a não ter receio de trabalhar. Aliás, procuramos fazê-lo com amor.
É por tudo isto que O PÃO DA CONFRARIA é especial, nele transportando a simplicidade do viver com a fraternidade do partilhar e a liberdade de o entender como instrumento da harmonia e da felicidade que reconhecemos como direito. De todos!»
E, acrescentamos hoje ainda sem meios (económicos) para o demonstrar cientificamente, seguramente isento ou com níveis irrisórios de toxinas, neste caso provavelmente resultantes de manipulações de fiscais da UE, essa associação de ricos que espezinha a sobriedade e a pobreza e promove a arrogância e a ganância.
É que, neste percurso de oito mil anos em que foi necessário sobreviver a centenas de nuvens cinzentas, vulcânicas e outras, à cabeça das quais a fome, só os alimentos de eleição resistiram como companheiros inseparáveis do Homem.
Ao contrário das curiosas inovações, mesmo quando promovidas por famosas nutricionistas e respeitáveis médicos, que, embora protegidas pelo poder económico, não resistem uma dezena de anos, como acaba de acontecer ao Actimel e ao Activia, que finalmente foram obrigados a deixar de ostentar o embuste de serem «alimentos saudáveis» e/ou «protectores da saúde», quando na realidade não chegam aos chincalhos de umas sopas de leite com… Pão tradicional! Para além dos «outros riscos». E do preço, de acordo com o embuste!
Ou seja, o Pão Tradicional, frugal, como elemento principal da Cultura Mediterrânica, resiste muito melhor às adversidades do que a engenharia económica do mundo, a qual se borrou toda com uma… nuvenzinha!
Deixamos estas recomendações, as quais já fizemos na presença do Senhor Sub-Director Geral de Saúde a 17.05.05, no Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade, Conferência «O Pão, o Comer e o Saber Viver», e do Senhor Director Geral de Saúde a 19.09.06, Fórum Saúde Alentejo, Conferência «O Pão e a Saúde»:

A Saúde individual e colectiva e a preservação do nosso planeta aconselham, ou melhor, OBRIGAM:
- a repensar os maus caminhos dos comeres e dos viveres modernos de cidade;
- a usar a nossa capacidade crítica ao avaliar as certezas médico-científicas;
- e a vigiar a acção de governantes e seus mandantes, impedindo que a mesma seja subordinada ao interesse económico.
Será seguramente também a melhor prevenção para que, a curto prazo, um «rumsfeld europeu» com amigos na OMS, não faça aprovar um antídoto de que tenha a exclusividade para… as toxinas do pão da UE. Nunca para o da Confraria onde a Gripe (também) ficou à porta!
Estamos conversados.