quarta-feira, 28 de julho de 2010

Toca a reunir!


Comentário à prisão de Pedrag Matvejevic

Fez no último Abril oito anos que, em sua casa nos arredores de Roma, conheci Pedrag Matvejevitć, esse vulto maior da Cultura Mediterrânica.
Acompanhado de minha filha, então com doze anos, levávamos a grata missão de lhe testemunhar quanto o Congresso de Cultura Mediterrânica, em geral, e a Confraria do Pão, em particular, rejubilaram com os textos que escrevera e enviara, impossibilitado que esteve de se deslocar ao Alentejo, onde o mesmo decorreu.
Não nos fizéramos anunciar. Fomos recebidos por sua encantadora companheira, a qual, depois de perceber ao que íamos, nos introduziu na sala onde o Professor repousava.
Pedrag, então Professor na Universidade La Sapienza de Roma, leccionara na Sorbone em Paris, pelo que o nosso diálogo decorreu em Francês, facilitado por uma expressão facial que, só por si, permitia um entendimento profundo.
A alegria e o entusiasmo foram arrebatadores. Tanto que logo ali ficou combinada a sua vinda para a apresentação das Actas do Congresso, seis meses depois. Entronizámo-lo a preceito e partimos com a convicção de que acabáramos de comprovar a universalidade de que suspeitáramos ao ler o seu «Breviário do Mediterrâneo».
Aquando da sua vinda, em Novembro de 2002, na Confraria, primeiro, e depois em Évora onde proferiu uma importante Conferência, finalmente em Lisboa nas entrevistas ao Carlos Marques (TSF) e à Lumena Raposo (DN), constatámos a nobreza do seu carácter, a sagacidade com que analisava o viver, a simplicidade com que expunha as suas ideias redentoras, absolutamente redentoras, da contemporaneidade, e a frontalidade que chamava a si na denúncia dos fundamentalismos de todas as cores e matizes. Em suma, um indispensável construtor do futuro multicultural, «um importante apoiante do conceito europeu, um homem que sempre tem buscado amplos e infinitos horizontes dos mares e costas que produzissem terras sem fronteiras, barricadas ou fortalezas.»É esse Homem que a justiça croata persegue desde 2005 e quer agora prender, por na sua terra ter chamado os bois pelos nomes a alguns fundamentalistas, não podendo deixar de denunciar a responsabilidade da intelligentsia nacionalista, aqueles que agitaram o ódio étnico e promoveram “guerras patrióticas” na ex-Jugoslávia, ideólogos vira-casacas. Deu-lhes o título que achou o mais apropriado: “Nossos Talibãs”. E um destes processou então Predrag Matvejević, que se viu condenado, “por injúria e difamação”, a uma pena de prisão efectiva.
Homem profundamente íntegro e vertical, Predrag declarou já a sua intenção de acatar a decisão dos tribunais e, irmanando-se com outros intelectuais perseguidos pelos ideais que defendem, cumprir a sentença de prisão – repto último ao próprio conceito de Europa!
(http://www.giardini.sm/matvejevic/prigione.htm)
Curiosa é a posição de indiferença da UE de que a Croácia quer vir a ser o 28º Estado, quiçá por este pensador do Mediterrâneo, da Europa e do Mundo ter afirmado que «não tenho grande consideração por aqueles que colocam o partidarismo acima dos princípios, a nacionalidade acima da humanidade.»
Vai nu o rei que permite prender intelectuais humanistas da estirpe de Pedrag, em vez de reduzir à sua expressão criminosa os fautores da ideologia fascista e nacional-fascista que estão por detrás desta ignóbil cabala.
Deste canto do Mediterrâneo, que reivindicamos universal e fraterno, aqui vai a expressão da nossa nossa profunda solidariedade e o nosso fraterno apoio à causa de Pedrag Matvejevitc.
Por enquanto, como escreveu, “Os verdadeiros vencedores, aqueles que sabem defender valores, a maior parte das vezes perdem as suas batalhas.”
Mas, garantimos, nunca perderão a Guerra. Toca a reunir!