segunda-feira, 20 de setembro de 2010

UM BANHO DE CULTURA... IMPRESSIONANTE!

Jerónimo Lagartixo no Cinquentenário da morte de Florbela Espanca


Organizado pelo Centro de Documentação do Pão, associação que pretende prosseguir a acção cultural a que a Confraria do Pão meteu ombros há mais de dez anos, realizou-se no último sábado, dia 18 de Setembro, no Monte das Galegas, uma importante jornada de cultura.
Foi preciosa a colaboração do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça, facilitando a presença de alguns dos melhores poetas populares alentejanos. Também a Confraria colaborou, nomeadamente com uma conversa/conferência, sobre Pão naturalmente, desta feita focalizando também o problema da fome que já assola mais de 925.000.000 (novecentos e vinte cinco milhões!) de seres humanos.
O Professor José Orta, da Escola Superior de Educação de Beja, chamou a si a abertura do evento debruçando-se com entusiasmo e profundidade sobre o tema «Cultura e Desenvolvimento Sustentável», cujo conteúdo contamos muito brevemente publicar e servirá seguramente para futuras reflexões e animados debates.
Depois, foi tempo de recordar duas personalidades da Cultura Alentejana; primeiro o Jerónimo Lagartixo, sobre o qual um cidadão do mundo, presente, deixou registadas as seguintes palavras:
«Bem melhor seria o mundo se os poetas também governassem. Sem muito querer saber do poder. Mas do poder também querer saber. A poesia estar sempre na rua. Não há escola como a rua. Para saber e para aprender. Eu por mim, tive o prazer de conhecer o Jerónimo Lagartixo no II Encontro Regional de Olaria, no Redondo, em 1981. Um Homem fascinante pela sua cultura. E tão humilde como ninguém. A ele, sim, se poderiam dedicar os versos de António Machado:
Caminhante, não há caminho. Faz-se o caminho ao andar!
Porque algumas vezes o vi caminhar. Do Freixo até Évora, a pé, rumo ao Diário do Sul, onde era jornalista.
Era uma vez, em Nisa, quando me disse:
Vi trabalhar noite e dia
À chuva e ao calor
Há Tanta ideia perdida
Não há quem lhe dê valor
.
E sobretudo, com o prolongar da noite, também fazia questão de afirmar:
Viva a República Carbonária, autêntica e libertária!
Agora não me perguntem a mim como é possível não guardar na memória um homem tão nobre como o Jerónimo Lagartixo. Claro que guardei!»
De seguida, um casal que trabalhou e conviveu com Jaime Velez, o Manta Branca, ajudou-nos a melhor compreender a personalidade do repentista autor das conhecidas décimas
Não vejo senão canalha
De banquete pra banquete
Quem produz e quem trabalha
Come açordas sem azeite

Finalmente o epílogo, com participação de vários poetas alentejanos que glosaram o mote da autoria do Dr. Américo Ponces, natural de Santiago Maior:
Uma açorda sem azeite,
Também de seca chamada,
Era carne, pão e leite
De quem não tinha mais nada

Tudo condimentado com a música e o cante do «Vento Suão», como que a empurrar-nos a viajar, sem medo, por tantas e tantas recordações.
Estava a jornada (quase) a terminar quando o Camilo Mortágua, com a lucidez a que nos habituou desde há décadas, houve por bem fazer, como nas décimas, o remate que se impunha:
«Seria talvez uma medida inteligente pedir aos partidos políticos que confiem aos poetas os seus programas. Eles andam prá aí todos tão preocupados em encontrar quem lhes redija os programas que se calhar se eles o pedissem aos poetas a gente percebia-os melhor.»
E lá partiram, optimistas como nos apraz, para «quase todo o Portugal», poetas, músicos e demais participantes, provavelmente com o sentimento que o Guanito, de Loulé, deixou escapar: um banho de cultura... impressionante!
O Dr. Emílio Peres, o Dr. Alexandre Torrinha e o nosso querido Dom José, com o Jerónimo, o Jaime e tantos e tantos outros que estavam nos nossos corações, fizeram questão de serem os últimos a rumar, neste caso para o universo, cada vez mais certos de que só se perdem as lutas que se abandonam.

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