O «Congresso das Açordas – Festa/Feira», que decorreu no passado fim-de-semana, mereceu justo destaque na Comunicação Social, nomeadamente Regional.
De entre esta, sobressai, como incontestável referência, o «Diário do Sul», fundado e dirigido pelo Manel (Madeira Piçarra), com o rigor possível e muita sensatez.
É, sem favor, um Jornal que honra o Alentejo e o País.
Mas, assim como no melhor pano pode cair uma nódoa, também o «nosso DS» não está imune a veicular a aculturação que pseudo-animadores culturais vão propagando impunemente.
Foi o que aconteceu na (larguíssima) promoção que fez ao citado Congresso/Festa/Feira, de que, pela importância do que está em causa, houvemos por bem fazer este reparo.
Refiro-me ao Artigo (não assinado) publicado na pág.9 da edição de 5 de Março último «Vamos comer uma açorda a Portel». O autor é livre para entender que «Em Portel, em vez de se homenagear a tradição gastronómica da açorda, mostrando-a como algo do passado, optou-se por mostrar as qualidades deste preparado e a sua contribuição para o progresso do Alentejo e a melhoria dos hábitos alimentares de todos». Com certeza que lhe faltará conhecimento científico, pelo que confundir desejo com realidade não chega a ser …disparate. E a «inovação» que enche o seu artigo é tão caricata que terá, inevitavelmente, o efeito contrário ao que deseja: Não desenvolvimento e (séria) dificuldade em fixar jovens por efectivo e insensato desrespeito pela Tradição naquilo que esta tem de mais importante para que possa ser articulada com a Inovação – a Cultura!
Esta discussão, contudo, fica para outros fóruns mais afeitos à cuidadosa análise das razões que obstam ao Desenvolvimento, tanto quanto enchem os bolsos, perdão, os offshores, dos seus pseudo agentes. Esperemos que com conclusões responsabilizadoras…
O que nos obrigou a este comentário foi a «receita» de Açorda Tradicional que o mesmo artigo proclama, é verdade que só reproduzindo:
A primeira, a abrir o artigo: «Ponho a água ao lume e meto o bacalhau e os ovos a cozer com sal. Abre a fervura e deixa-se cozer. Quando os ovos e o bacalhau estiverem cozidos, arreda-se. Numa tigela deito o pimentão (!) cortado aos bocadinhos e os coentros picados. Piso muito bem e deito o azeite por cima».
A segunda, já na sexta coluna, aparentemente continuação da anterior: «Migam-se as sopas para a tigela com os temperos pisados e o azeite e deita-se o caldo. Numa travessa fica(m) os ovos e o bacalhau que serão comidos a acompanhar as sopas. Pode ainda servir-se como acompanhamento azeitonas, uvas, figos frescos, sardinhas assadas ou rábanos».
Noutro tempo de maior disponibilidade, o grande e culto Director que o DS tem teria «sentido» que «faltava alguma coisa» para que esta açorda (com letra pequena) fosse comestível.
E falta, falta a essência que transforma ervas (preferentemente Poejo), sal, alho, eventualmente pimentos, bem macerados, e azeite, e Pão, mesmo sem bacalhau, só com um ovinho deitado no fim da fervura, num manjar apetitoso e nutricionalmente rico. Faltam as reacções químicas, tal como ao «animador» que recolheu a «receita» lhe falta a humildade para aprender com «os analfabetos» e aos seus amos que consomem os dinheiros públicos em jornadas eleiçoeiras lhes falta a dignidade de respeitarem a Cultura.
Que reacções químicas, perguntam com razão os nossos leitores, muitíssimos menos dos que os do DS e daí a importância deste «escrito». Pois bem, aí vai a Receita, que demorou a construir dois milhões de anos e que esta gentalha quer modificar em três Festivais, já se vê que «para o progresso do Alentejo e a melhoria dos hábitos alimentares de todos»:
- A maceração dos Poejos (ou Coentros) com um pouco de Sal e o(s) dente(s) de alho, eventualmente pimento migado, deve ser feita num gral (almofariz de madeira), mesmo que não certificado pela ASAE, o qual só deverá servir para tal efeito;
- É imprescindível que a água seja vertida sobre os temperos, já com azeite (uma colher de sopa por cada comensal mais uma pró Alguidar/Tigela), ainda «a ferver», isto é, a temperatura superior a 90ºC;
- As sopas de Pão só são adicionadas depois de se ajustar o sal;
- Os ovos, se cozidos, entram para a panela muito depois do bacalhau mas podem, com vantagem, ser adicionados à água na altura em que esta entra em fervura e se «arreda» do lume (ovos escalfados).
Talvez assim os jovens, turistas ou não, que experimentarem fazer uma Açorda a comam e repitam ao longo da vida várias vezes. Mas mesmo que assim não seja, nela reconhecerão «qualquer coisa» que os obrigará a respeitar a Cultura Alimentar desta região do mundo que uns tantos tecnocratas são incapazes de promover, quanto mais de Inovar. Precisamente, a Cultura!
Notas finais, nutritivas:
- Os ovos são os fornecedores das proteínas animais. Usá-los torna prescindível o bacalhau ou as sardinhas. E vice-versa;
- Azeitonas e Rábanos, Figos ou Uvas, complementam a refeição;
- O Pimentão, que se deve usar com muita moderação, é para temperar a carne de porco de montado, não de supermercado… mas, assim mesmo, menos saudável do que o alho.
Pronto, fica a «receita» que recusa o «desenvolvimento» selvagem. Por sermos Alentejanos, pelo menos no respeito que nos merece a Cultura Alentejana.
De entre esta, sobressai, como incontestável referência, o «Diário do Sul», fundado e dirigido pelo Manel (Madeira Piçarra), com o rigor possível e muita sensatez.
É, sem favor, um Jornal que honra o Alentejo e o País.
Mas, assim como no melhor pano pode cair uma nódoa, também o «nosso DS» não está imune a veicular a aculturação que pseudo-animadores culturais vão propagando impunemente.
Foi o que aconteceu na (larguíssima) promoção que fez ao citado Congresso/Festa/Feira, de que, pela importância do que está em causa, houvemos por bem fazer este reparo.
Refiro-me ao Artigo (não assinado) publicado na pág.9 da edição de 5 de Março último «Vamos comer uma açorda a Portel». O autor é livre para entender que «Em Portel, em vez de se homenagear a tradição gastronómica da açorda, mostrando-a como algo do passado, optou-se por mostrar as qualidades deste preparado e a sua contribuição para o progresso do Alentejo e a melhoria dos hábitos alimentares de todos». Com certeza que lhe faltará conhecimento científico, pelo que confundir desejo com realidade não chega a ser …disparate. E a «inovação» que enche o seu artigo é tão caricata que terá, inevitavelmente, o efeito contrário ao que deseja: Não desenvolvimento e (séria) dificuldade em fixar jovens por efectivo e insensato desrespeito pela Tradição naquilo que esta tem de mais importante para que possa ser articulada com a Inovação – a Cultura!
Esta discussão, contudo, fica para outros fóruns mais afeitos à cuidadosa análise das razões que obstam ao Desenvolvimento, tanto quanto enchem os bolsos, perdão, os offshores, dos seus pseudo agentes. Esperemos que com conclusões responsabilizadoras…
O que nos obrigou a este comentário foi a «receita» de Açorda Tradicional que o mesmo artigo proclama, é verdade que só reproduzindo:
A primeira, a abrir o artigo: «Ponho a água ao lume e meto o bacalhau e os ovos a cozer com sal. Abre a fervura e deixa-se cozer. Quando os ovos e o bacalhau estiverem cozidos, arreda-se. Numa tigela deito o pimentão (!) cortado aos bocadinhos e os coentros picados. Piso muito bem e deito o azeite por cima».
A segunda, já na sexta coluna, aparentemente continuação da anterior: «Migam-se as sopas para a tigela com os temperos pisados e o azeite e deita-se o caldo. Numa travessa fica(m) os ovos e o bacalhau que serão comidos a acompanhar as sopas. Pode ainda servir-se como acompanhamento azeitonas, uvas, figos frescos, sardinhas assadas ou rábanos».
Noutro tempo de maior disponibilidade, o grande e culto Director que o DS tem teria «sentido» que «faltava alguma coisa» para que esta açorda (com letra pequena) fosse comestível.
E falta, falta a essência que transforma ervas (preferentemente Poejo), sal, alho, eventualmente pimentos, bem macerados, e azeite, e Pão, mesmo sem bacalhau, só com um ovinho deitado no fim da fervura, num manjar apetitoso e nutricionalmente rico. Faltam as reacções químicas, tal como ao «animador» que recolheu a «receita» lhe falta a humildade para aprender com «os analfabetos» e aos seus amos que consomem os dinheiros públicos em jornadas eleiçoeiras lhes falta a dignidade de respeitarem a Cultura.
Que reacções químicas, perguntam com razão os nossos leitores, muitíssimos menos dos que os do DS e daí a importância deste «escrito». Pois bem, aí vai a Receita, que demorou a construir dois milhões de anos e que esta gentalha quer modificar em três Festivais, já se vê que «para o progresso do Alentejo e a melhoria dos hábitos alimentares de todos»:
- A maceração dos Poejos (ou Coentros) com um pouco de Sal e o(s) dente(s) de alho, eventualmente pimento migado, deve ser feita num gral (almofariz de madeira), mesmo que não certificado pela ASAE, o qual só deverá servir para tal efeito;
- É imprescindível que a água seja vertida sobre os temperos, já com azeite (uma colher de sopa por cada comensal mais uma pró Alguidar/Tigela), ainda «a ferver», isto é, a temperatura superior a 90ºC;
- As sopas de Pão só são adicionadas depois de se ajustar o sal;
- Os ovos, se cozidos, entram para a panela muito depois do bacalhau mas podem, com vantagem, ser adicionados à água na altura em que esta entra em fervura e se «arreda» do lume (ovos escalfados).
Talvez assim os jovens, turistas ou não, que experimentarem fazer uma Açorda a comam e repitam ao longo da vida várias vezes. Mas mesmo que assim não seja, nela reconhecerão «qualquer coisa» que os obrigará a respeitar a Cultura Alimentar desta região do mundo que uns tantos tecnocratas são incapazes de promover, quanto mais de Inovar. Precisamente, a Cultura!
Notas finais, nutritivas:
- Os ovos são os fornecedores das proteínas animais. Usá-los torna prescindível o bacalhau ou as sardinhas. E vice-versa;
- Azeitonas e Rábanos, Figos ou Uvas, complementam a refeição;
- O Pimentão, que se deve usar com muita moderação, é para temperar a carne de porco de montado, não de supermercado… mas, assim mesmo, menos saudável do que o alho.
Pronto, fica a «receita» que recusa o «desenvolvimento» selvagem. Por sermos Alentejanos, pelo menos no respeito que nos merece a Cultura Alentejana.
Sem comentários:
Enviar um comentário